quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Aquecimento Global na mídia brasileira: Folha e Estadão ignoram ‘céticos do clima’, diz pesquisa

Estudo mostra que jornais de países em desenvolvimento dão pouco espaço a vozes contrárias à tese da influência antrópica no clima 

[Os gases expelidos por bovinos contribuem para o aquecimento global,
na ótica da corrente científica predominante na mídia]
Adaptado de http://www.vcestudyguides.com/guides/language-analysis/10-things-to-look-for-in-cartoons

Uma pesquisa da Universidade de Oxford, Inglaterra, mostra que matérias jornalísticas com perspectivas céticas sobre a influência do homem na alteração climática são mais frequentes nos Estados Unidos e Reino Unido, do que em países em desenvolvimento.

Os jornais brasileiros analisados foram a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. Os resultados da pesquisa foram publicados no relatório Poles apart: The international reporting of climate scepticism (Em pólos opostos: A cobertura internacional do ceticismo sobre mudança climática). Uma abrangente análise do estudo foi objeto de matéria do jornalista Marcelo Garcia, publicada ontem no site de Ciência Hoje.

A idéia de que as mudanças climáticas observadas nada ou pouco tem a ver com atividades humanas – que muitos cientistas, os ‘céticos do clima’, defendem – é praticamente ignorada pelos dois maiores jornais de São Paulo.

Essa foi uma das conclusões do estudo feito pela tradicional instituição inglesa, que avaliou jornais de grande circulação em mais cinco países: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Índia.

O estudo mostrou que não só a visibilidade das teses defendidas pelos céticos do clima, mas também o enfoque político do tema é menor nos três países do BRICS do que na imprensa americana e britânica.

Os jornais foram analisados no período de lançamento dos primeiros relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), fevereiro-abril de 2007, e nos meses antes e depois da Cúpula das Nações Unidas sobre o Clima em Copenhague (COP-15) e do escândalo batizado de Climategate (manipulação de dados do IPCC), novembro de 2009 a fevereiro de 2010. A pesquisa incluiu também entrevistas com editores e ex-editores dos jornais.

O Brasil apresentou os percentuais mais baixos entre os emergentes, apenas 1% e 3% de artigos com pontos de vista dos céticos, no primeiro e no segundo período analisado, respectivamente. Paradoxalmente, a China – país sem liberdade de imprensa e o maior emissor de CO2 do planeta também teve um índice baixo (8%, como a Índia). Já entre os países desenvolvidos, os que deram mais visibilidade aos céticos foram Estados Unidos (13% e 40%) e Reino Unido (4% e 23%).

O maior espaço dedicado aos céticos do clima em jornais americanos e anglo-saxões se deve à realidades peculiares a esses países. “O Reino Unido tem uma imprensa polarizada, que deu grande destaque à cobertura do Climategate e ONGs defensoras de perspectivas céticas. Nos Estados Unidos existe uma prática de parte da comunidade científica de por em dúvida os pontos de vista predominantes, por questões ideológicas ou econômicas, além de uma grande organização dos grupos céticos”, explicou James Painter, um dos responsáveis pelo estudo.

Em relação ao Brasil, a predominância de uma matriz energética altamente limpa, a inexistência de grupos lobistas ligados à indústria do petróleo, a preocupação de agroexportadores com possíveis efeitos de mudanças climáticas na agricultura e a liderança mundial na produção de biocombustíveis são fatores que podem a explicar os resultados da pesquisa.

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