Adaptado de http://www.cigarro.med.br/fotos.htm
O projeto “Diálogos Universitários” – idealizado por um grande fabricante de cigarros no Brasil – tem como plataforma estratégica para fomentar suas vendas os Centros Acadêmicos (CA) de instituições de ensino superior.
Uma
indústria como essa precisa de um marketing eficiente, para angariar continuamente
novos consumidores, criar novos fumantes, já que a
probabilidade de longevidade nos adictos ao “careta” é mínima.
Diante
das dificuldades legais cada vez maiores para veicular propagandas do
cancerígeno, o líder do setor tabagista mundial viu no marasmo
alienatório – que há anos tomou conta do movimento estudantil brasileiro – uma
ótima oportunidade para emplacar sua marca no meio universitário.
Os CAs se
submetem a uma espécie de concurso nacional, e os vencedores recebem apoio
financeiro e logístico do fabricante de cigarros para promover eventos com a
participação de personalidades de destaque no cenário político, jornalístico ou
cultural.
A bola da
vez foi o Centro Acadêmico Vladimir Herzog, do curso de Comunicação Social da
UFPB, que obteve patrocínio do gigante da indústria tabagista e trouxe o
repórter global Caco Barcellos para proferir palestra e debater com os estudantes.
O evento aconteceu
ontem à noite, em João Pessoa, e foi objeto de uma brilhante crônica do
jornalista Simão Mairins (Editor do blog Ócio
Hiperativo), a qual reproduzimos abaixo. Os vídeos que compõem o post
original de Mairins podem ser acessados em http://www.ociohiperativo.com.br/.
Sem maconheiros, um quase impecável evento do fumo
Por Simão Mairins
Já há alguns anos, é proibida a propaganda de cigarros no Brasil, exceto
através de cartazes e mostruários personalizados nos pontos de venda. Para
piorar a situação das fabricantes de fumo lícito, parlamentares têm discutido a
possibilidade de restringir totalmente a publicidade desse tipo de produto.
Ligada, a indústria do tabaco tem lutado de todas as formas para se manter viva, coisa que não é fácil para quem vende de forma legal um produto excessivamente tributado e que não pode ser oferecido na TV, no rádio, em revistas, jornais ou qualquer outra mídia, assim como seus congêneres etílicos. Nessa guerra, ela é reconhecida por ter as equipes de marketing mais eficientes do mundo, pois vender algo que expressa de forma clara em seu rótulo que no longo prazo pode matar o cliente não é para qualquer um.
Dentre as tantas estratégias da indústria do tabaco, uma que – pelo tempo que tem durado – está dando muito certo é o projeto Diálogos Universitários, da Souza Cruz, uma das principais fabricantes de cigarros do mundo. Anualmente, a atividade acontece cerca de 20 vezes, em instituições de diferentes cidades brasileiras, com palestras de profissionais de renome. Para conseguir levar à sua instituição uma dessas palestras, os estudantes precisam se mobilizar e conseguir votos. Quem tiver mais apoio ganha suporte financeiro e logístico para promover seu evento.
E foi no Diálogos que estudantes do curso de Comunicação da UFPB encontraram uma grande possibilidade de promover algo enriquecedor dentro da universidade. Após vencer um concurso do projeto, a gestão atual do Centro Acadêmico Vladimir Herzog levou o repórter da TV Globo, Caco Barcellos, para palestrar e responder perguntas de um grande público nesta sexta-feira (11), no auditório do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da instituição. Estive lá e, mesmo reticente com o patrocínio nada idôneo e os afagos do jornalista à empresa que bancou tudo, gostei do falatório. Apesar das falhas no microfone, que ocorreram do início ao fim, Barcellos chamou atenção para um tema que domina bem e, o mais importante, sem muitos preconceitos: violência urbana (ele é autor de dois livros importantes sobre o tema: Rota 66 e Abusado).
Em contrapartida, a falta de senso crítico de parte dos estudantes do curso me chamou atenção mais uma vez. Depois do um tanto ridículo alvoroço que fizeram em torno do debate sobre jornalismo sensacionalista de semanas atrás, indo à mídia pedir desculpas por protestos que outros estudantes promoveram, entrar na estratégia de uma das indústrias que mais mata no mundo passou uma impressão de imaturidade, deslumbramento ou, na pior das hipóteses, indiferença, só para promoverem um grande evento.
Vejam o que o público da palestra falou no Twitter e tirem suas próprias conclusões. Só adianto que "chik" (sic) e "vip" serão termos fáceis de encontrar: #CacoBarcellosnaUFPB
Ligada, a indústria do tabaco tem lutado de todas as formas para se manter viva, coisa que não é fácil para quem vende de forma legal um produto excessivamente tributado e que não pode ser oferecido na TV, no rádio, em revistas, jornais ou qualquer outra mídia, assim como seus congêneres etílicos. Nessa guerra, ela é reconhecida por ter as equipes de marketing mais eficientes do mundo, pois vender algo que expressa de forma clara em seu rótulo que no longo prazo pode matar o cliente não é para qualquer um.
Dentre as tantas estratégias da indústria do tabaco, uma que – pelo tempo que tem durado – está dando muito certo é o projeto Diálogos Universitários, da Souza Cruz, uma das principais fabricantes de cigarros do mundo. Anualmente, a atividade acontece cerca de 20 vezes, em instituições de diferentes cidades brasileiras, com palestras de profissionais de renome. Para conseguir levar à sua instituição uma dessas palestras, os estudantes precisam se mobilizar e conseguir votos. Quem tiver mais apoio ganha suporte financeiro e logístico para promover seu evento.
E foi no Diálogos que estudantes do curso de Comunicação da UFPB encontraram uma grande possibilidade de promover algo enriquecedor dentro da universidade. Após vencer um concurso do projeto, a gestão atual do Centro Acadêmico Vladimir Herzog levou o repórter da TV Globo, Caco Barcellos, para palestrar e responder perguntas de um grande público nesta sexta-feira (11), no auditório do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da instituição. Estive lá e, mesmo reticente com o patrocínio nada idôneo e os afagos do jornalista à empresa que bancou tudo, gostei do falatório. Apesar das falhas no microfone, que ocorreram do início ao fim, Barcellos chamou atenção para um tema que domina bem e, o mais importante, sem muitos preconceitos: violência urbana (ele é autor de dois livros importantes sobre o tema: Rota 66 e Abusado).
Em contrapartida, a falta de senso crítico de parte dos estudantes do curso me chamou atenção mais uma vez. Depois do um tanto ridículo alvoroço que fizeram em torno do debate sobre jornalismo sensacionalista de semanas atrás, indo à mídia pedir desculpas por protestos que outros estudantes promoveram, entrar na estratégia de uma das indústrias que mais mata no mundo passou uma impressão de imaturidade, deslumbramento ou, na pior das hipóteses, indiferença, só para promoverem um grande evento.
Vejam o que o público da palestra falou no Twitter e tirem suas próprias conclusões. Só adianto que "chik" (sic) e "vip" serão termos fáceis de encontrar: #CacoBarcellosnaUFPB
Talvez os organizadores não tenham percebido (e, sendo otimista, espero
que tenha sido mesmo inocência), mas promover eventos como o Diálogos é hoje
uma das maneiras mais eficientes que o mercado de tabaco encontrou para vender
seu produto. E ir à universidade fazer isso não é algo aleatório. Todo homem de
negócios trabalha de olho no futuro. Quando o assunto é cigarro, as empresas
sabem que muitos dos seus clientes fiéis não viverão muito, e precisam
arregimentar novos. E quanto mais novos eles ficarem viciados, por mais tempo
eles consumirão.
Aderir a essa campanha da morte é no mínimo contraditória para quem critica usuários de maconha. E não adianta recorrer ao discurso hipócrita das companhias que fabricam cigarro, de que a escolha é livre e cada indivíduo define sozinho se quer ou não fumar (assim como o telespectador, com o controle remoto na mão, define o canal que quer assistir). Todos aí são comunicadores e sabem que influenciar faz parte do jogo. E, assim como o ar saudável dos comerciais de cigarro antigamente, jovens estudantes também fazem uma boa propaganda (e por um preço bem mais baixo, pois pelo que vi, no concurso "Deixe sua Marca", do Diálogos Universitários, o grupo vencedor recebe R$ 2.500).
Antes da palestra, ainda consegui ouvir alguns comentários criticando a patrocinadora do evento e sei que muita gente deve ter achado aquela presença um tanto incômoda ou, pelo menos, estranha. Mas durante as intervenções do público – devidamente moderadas pela organização, que recolheu as perguntas por escrito e selecionou as que seriam feitas – qualquer voz contrária ficou abafada. Sobraram os clichês do tipo “Quais foram suas dificuldades no início da carreira?” e a dúvida cuja resposta foi ansiosamente esperada por todos, como disse o representante do CA, “Quais são os critérios para entrar no Profissão Repórter?”.
Sem os rebeldes do debate anterior, que os simpatizantes da gola engomada sempre lembram de definir como maconheiros, não houve fogo. Mas fumaça teve de sobra.
Aderir a essa campanha da morte é no mínimo contraditória para quem critica usuários de maconha. E não adianta recorrer ao discurso hipócrita das companhias que fabricam cigarro, de que a escolha é livre e cada indivíduo define sozinho se quer ou não fumar (assim como o telespectador, com o controle remoto na mão, define o canal que quer assistir). Todos aí são comunicadores e sabem que influenciar faz parte do jogo. E, assim como o ar saudável dos comerciais de cigarro antigamente, jovens estudantes também fazem uma boa propaganda (e por um preço bem mais baixo, pois pelo que vi, no concurso "Deixe sua Marca", do Diálogos Universitários, o grupo vencedor recebe R$ 2.500).
Antes da palestra, ainda consegui ouvir alguns comentários criticando a patrocinadora do evento e sei que muita gente deve ter achado aquela presença um tanto incômoda ou, pelo menos, estranha. Mas durante as intervenções do público – devidamente moderadas pela organização, que recolheu as perguntas por escrito e selecionou as que seriam feitas – qualquer voz contrária ficou abafada. Sobraram os clichês do tipo “Quais foram suas dificuldades no início da carreira?” e a dúvida cuja resposta foi ansiosamente esperada por todos, como disse o representante do CA, “Quais são os critérios para entrar no Profissão Repórter?”.
Sem os rebeldes do debate anterior, que os simpatizantes da gola engomada sempre lembram de definir como maconheiros, não houve fogo. Mas fumaça teve de sobra.
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