segunda-feira, 23 de abril de 2012

Greve à vista nas IFES

‘Diálogo de surdos’ entre governo e sindicatos empurra docentes para greve a partir de 15 de maio 

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Apesar da forte desmobilização dos professores das IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) – caracterizada por assembleias esvaziadas – vai se formando um consenso, com auxílio da internet, sobre a necessidade de se paralisar as atividades para mostrar ao governo que merecemos um pouco mais de respeito.

A última greve de docentes das IFES foi há 7 anos. Em média, foram 3 meses de paralisação, causando irreparáveis perdas aos estudantes e ao país.

O fato é que, de 2005 pra cá, o salário dos professores mal acompanhou a inflação. Mesmo assim, a inclusão de mais uma “classe” na carreira (a de Professor Associado) – por acordo entre o governo e um dos sindicatos (Proifes) – trouxe uma perspectiva de ganho salarial para muitos que estavam no último nível acadêmico (Adjunto IV).

Diga-se de passagem, apesar da urgência em se prolongar a carreira então vigente dos professores doutores (de apenas 6 anos), o mecanismo criado foi altamente injusto com os que haviam se aposentado antes da nova classe entrar em vigor.

Um enorme contingente – que dedicou 30, 35 anos ao magistério federal e passou vários anos no topo da carreira antes de se aposentar – hoje tem proventos bastante defasados em relação ao que deviam receber (o critério da “paridade”), por conta do nefasto artifício instituído pelo governo com o aval do Proifes.

Por outro lado, a artimanha foi usada pelo governo como um eficiente dispositivo para limitar o gasto público, já que o desembolso para custear os salários dos professores que ingressassem na classe de Associado se daria de forma gradual, sem grande impacto imediato na folha de pagamento.

Em agosto próximo faz 2 anos que o governo apresentou uma nova proposta de carreira para os docentes das IFES. Pode-se considerar a data como um marco das negociações pós-2005.

A ideia central do novo plano é incontestável: prolongar a carreira do professor doutor (dos atuais 14 anos) para 20 e poucos anos. Mas a proposta em questão não difere muito da fórmula aplicada para estancar a última greve e foi prontamente rechaçada pelos dois sindicatos da categoria, Andes e Proifes. Além de não contemplar aposentados, o projeto de nova carreira do governo continha graves distorções e dificilmente poderia prosperar com o aval dos sindicatos.

Mas ao mesmo tempo em que se mostrava irredutível em sua proposta original, o governo se dizia “aberto ao diálogo”. E acabou acertando com os canais sindicais um interminável “calendário de negociações”, com prazo vencido no último dia 31.

Às vésperas do segundo aniversário desde a primeira reunião entre sindicato e governo, algum avanço? Míseros 4% em caráter “emergencial” (a partir de março de 2012), enviados ao Congresso na forma de projeto de lei.

E qual a razão desse descaso do governo com uma das categorias mais qualificadas e mais mal remuneradas do serviço público federal? Entre outras razões, há fortes indícios que apontam para a inépcia de nossos representantes sindicais.

Não são poucas as manifestações “das bases”, especialmente via internet, de descontentamento com a postura de nossos dirigentes em relação às “negociações” com o governo. Chegam a lembrar os “pelegos”, sindicalistas cooptados pelo governo militar durante a ditadura.

A verdade é que ninguém sabe ao certo a que vieram os atuais dirigentes do Andes e Proifes. São atrelados ao PT, colaboradores incondicionais do governo? Paladinos escamoteados da “política anti-gasto público” defendida pela grande mídia?

Por que a obstinação em somar esforços com o conjunto dos servidores federais e, assim, fazer o jogo do governo (que há muito tempo nada concede de forma “generalizada”)?

Por que pretender a todo custo unificar as carreiras (EBTT e MS), quando o que importa de fato é que haja equivalência salarial e de progressão acadêmica, a partir de duas novas e motivadoras carreiras?

Por que defender a exclusão do cargo de Professor Titular, fazer deste ponto “cavalo de batalha”, quando menos de 10% dos professores federais detém este cargo?

São muitas perguntas e nenhuma resposta. Na verdade, há sim uma resposta em gestação. Os professores começam a se mobilizar e, em algumas universidades, já aprovaram um "indicativo" de greve para o próximo mês.

Já são 16 instituições que podem paralisar suas atividades a partir de 15 de maio: UFPR, UFPB, UFAM, UFMT, UFMA, UFS, UFAL, UFMS, UFC, UNIR, UFSM, UFPI, UFU, UNIVASF, UFV e UTFPR.

A greve é sem dúvida o último recurso a ser considerado, mas no atual contexto parece a única alternativa que resta aos professores federais.

3 comentários:

  1. Boa, Pralon. Os professores precisam ficar atentos às negociações dos sindicatos na calada da noite, porque nem sempre esses acabam refletindo o real interesse da categoria. E alunos e sociedade em geral precisa assumir para si também essa causa.

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  2. É uma pena que as reivindicações mais do que justas dos professores tenham que ser "ouvidas" desta maneira. Vamos torcer que sejam atendidas num prazo hábil para que o semestre nao seja prejudicado como na última grande greve. Boa sorte bro!

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  3. Aqui na minha Instituição tivemos um colega servidor administrativo na carreira de nível médio a 15 anos na Instituição, que foi aprovado para a carreira docente. Depois de entregar toda a documentação para a posse, acabou desistindo, depois que viu o salário. Ele disse que perderia de imediato, em torno de 30% em relação ao seu salário atual. Este servidor não tem nada incorporado e não ocupa nenhum cargo de chefia atualmente.

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