quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sustentabilidade ambiental: produção de água com tecnologia limpa

Turbina eólica transforma umidade do ar em água potável; em zonas desérticas, equipamento produz até 230 litros por dia

Ciclo da água e turbina eólica que condensa umidade do ar. Volume de água contida na atmosfera terrestre é estimado em 13 mil km3. Adaptado de http://www.eolewater.com/gb/our-products/our-expertise.html

Muitas tecnologias “imitam” a natureza. Dessa vez, a genialidade humana criou um dispositivo capaz de reproduzir o fenômeno chuva e, assim, obter água potável de sem agredir o meio ambiente.

O equipamento – que utiliza a força do vento – além de produzir água pura, gera energia. A revolucionária tecnologia é de origem francesa e foi patenteada internacionalmente em 2005 por Marc Parent, fundador da empresa Eole Water.

Tem capacidade para produzir diariamente 230 litros de água em climas com umidade relativa (UR) baixa (30%), 1.000 litros em atmosferas com UR moderada (60%) e 1.500 litros em zonas costeiras (UR = 70%).

Esses dados se referem a um modelo de aerogerador de 30 kW, sob ventos com velocidade média de 10 metros por segundo e foi projetado para atender comunidades isoladas, com populações entre 500 e 5 mil pessoas.

Um modelo menor, de 5,5 kW, capaz de produzir de 57 a 232 litros/dia (dependendo do clima) deve estar comercialmente disponível ainda este ano. Sua vantagem é a de poder atender pequenos proprietários ou consumidores individuais.

A água doce produzida com a turbina eólica assim como aquela obtida com destiladores e outras tecnologias de dessalinização é carente de sais minerais e, para ser apropriada ao consumo humano, deve ser remineralizada. A Eole Water dispõe de cartuchos remineralizantes, que custam entre 20 e 45 euros e podem durar entre 3 e 6 meses, dependendo do modelo da turbina e a intensidade de uso.

Neblina ao redor de montanhas no Deserto de Atacama, Chile
http://issuu.com/matteeditores/docs/aguas_antofagasta

Se por um lado a atmosfera terrestre é um gigantesco reservatório de água doce, por outro, mais de um bilhão de pessoas no mundo não tem acesso à água potável, segundo a Organização Mundial da Saúde. A cada ano, 1,8 milhão de crianças morrem por falta de água limpa e 2,2 milhões de pessoas morrem de diarreia causada por água contaminada.

Há milhares de anos, os habitantes do deserto já desenvolviam técnicas engenhosas de captação de água para atender suas necessidades de sobrevivência. Nas costas montanhosas do Mediterrâneo, a condensação de neblinas era usada para irrigação no cultivo de árvores frutíferas.

Nas ilhas de Cabo Verde, era comum o uso de certas plantas para condensar neblinas; há registro de que enormes lírios superpostos em cascata produziam diariamente entre 200 e 600 litros de água doce.

No deserto mais árido do mundo – o de Atacama, no norte do Chile – um conjunto de uma espécie de vela (atrapa-nieblas), desenvolvida por universidades locais nos anos 1980, chegava a captar das névoas 12 mil litros de água por dia, que abasteciam uma comunidade de 450 pessoas. 

“Atrapa-nieblas” instalados em Chañaral, Deserto de Atacama, Chile
http://www.flickr.com/photos/cruz_fr/3349250913/

No aerogerador que produz água, o ar carregado de umidade é aspirado pela turbina, pressurizado em um compressor, onde a água é condensada e, em seguida, transferida para um tanque de armazenamento. Trata-se de um eficiente método de produção de água doce, especialmente em áreas remotas e desérticas.

Além de não causar impacto negativo ao meio ambiente, o custo da água potável produzida com tecnologia eólica é cerca de 50% daquele da água obtida por métodos tradicionais, diz o diretor-presidente da Eole Water, Marc Parent.

Outra vantagem é que a produtividade da “água eólica” é bem superior à da dessalinização, método corrente de obtenção de água doce a partir da água do mar ou de fontes salobras.

O principal mercado visado pela Eole Water são países do Oriente Médio, como os Emirados Árabes, com o qual a empresa fechou vários contratos para instalação de unidades piloto. A Eole Water faturou 2 milhões de euros em 2011, valor que deve quintuplicar em 2012. 

http://issuu.com/matteeditores/docs/aguas_antofagasta

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