domingo, 3 de junho de 2012

Maconha medicinal: cientistas neutralizam substância psicótica da erva

Cannabis ‘seletiva’ não interessaria tanto ao tráfico e poderia ampliar possibilidades de uso terapêutico

http://ishealthy.com/the-strongest-cannabis-becomes-a-hard-drug-2-%C2%B0-part/

Pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém desenvolveram um tipo de maconha, cujo principal canabinoide (o THC, responsável por alterações mentais) é anulado.

A ideia dos especialistas israelenses é produzir uma cannabis com alto teor de CBD – o segundo canabinoide mais importante presente na planta – de modo que sua ação no organismo seja predominante em relação aos efeitos do THC. As propriedades do CBD são comprovadamente benéficas para enfermos de diabetes, artrite reumatoide e doença de Crohn.

O CBD não gera qualquer fenômeno psicológico ou psiquiátrico e reprime reações inflamatórias, sendo muito útil para o tratamento de doenças autoimunes”, afirmou a professora de imunologia Ruth Dallily, participante do estudo da universidade hebraica, em entrevista à BBC Brasil. Além disso, medicamentos à base de CBD seriam muito mais baratos que os convencionais usados no tratamento dessas doenças, diz Dallily.

O Ministério da Saúde de Israel licenciou a empresa Tikkun Olam para desenvolver medicamentos comerciais baseados em maconha medicinal, a partir de diferentes cepas da planta. Mais de 8 mil pacientes israelenses já são tratados com cannabis, mediante receitas médicas autorizadas pelo governo.

Novos estudos patrocinados pelo Ministério da Saúde israelense serão realizados para avaliar os efeitos do THC e do CBD em pacientes que sofrem dores crônicas. Dois grupos de pacientes receberão doses de maconha com teores de THC e CBD invertidos, em proporções máxima e mínima de cada canabinoide.

Maconha medicinal cultivada em estufa na Universidade Hebraica de Jerusalém (FOTO: Z. Klein/BBC)

O Brasil também já esteve na vanguarda da pesquisa científica sobre as propriedades medicinais da maconha. Uma equipe liderada pelo médico e psicofarmacólogo Elisaldo Carlini, da Unifesp, foi pioneira nos estudos para melhorar o efeito terapêutico da cannabis com a mistura de substâncias produzidas por diferentes cepas da planta.

Segundo Carlini, remédios baseados no THC são eficazes para reduzir dores neuropáticas, náusea e vômito provocados pela quimioterapia do câncer, no tratamento de esclerose múltipla, entre outras doenças graves.

“Mas nunca conseguimos tirar nada de positivo desses trabalhos aqui no Brasil para gerar algum produto”, declarava o professor Carlini à Pesquisa FAPESP em 2010. Só quem se beneficiou dos seus trabalhos (realizados nas décadas de 1970 e 1980) foi a indústria farmacêutica dos países ricos.

Um estudo feito por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto – liderados pelo psiquiatra Antônio Zuardi – publicado em 2011, já comprovava que a presença do CBD em doses elevadas pode minimizar efeitos colaterais, como alterações mentais, decorrentes da ação psicoativa da erva, causada pelo THC.

Mas o THC tem também um forte potencial terapêutico, agindo significativamente sobre a percepção da dor, conforme comprovam estudos do Centro de Pesquisa Medicinal da Cannabis (CMCR, na sigla em inglês) da Universidade da Flórida.

As pesquisas do CMCR mostraram que este canabinoide psicoativo se mostrou efetivo no combate às reações adversas dos tratamentos de câncer e neuropatia periférica associada à infecção por HIV. 

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