quarta-feira, 13 de março de 2013

Carvão mineral: alternativa energética para o Brasil?

Combustível responsável por quase metade da produção mundial de eletricidade, responde por menos de 2% de nossa matriz elétrica 

http://ambientalsustentavel.org/2012/carvao-na-encruzilhada-um-insumo-mineral-sujo-e-poluente/

De cada 100 kWh gerados no planeta, 42 kWh provém de termelétricas alimentadas por carvão mineral. Mantido o atual ritmo de exploração desse minério, suas reservas podem durar mais 126 anos. 

Até 2017, o carvão mineral deve se tornar a principal fonte de energia no mundo, diz a Agência Internacional de Energia. Mesmo assim, o impacto ambiental desse combustível o faz centro de uma polêmica sobre o aumento de sua exploração no Brasil, como revela a matéria de capa da Ciência Hoje deste mês.

As jazidas brasileiras de carvão somam 7 bilhões de toneladas, equivalentes a 1% da reserva mundial. Mais de 99% da produção nacional se concentra em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O carvão mineral é usado basicamente como combustível em termelétricas, representando 1,9% da matriz elétrica brasileira. 

Quase todo o carvão usado para outros fins que não insumo de usinas elétricas (produção de aço, por exemplo) é importado de países como Estados Unidos, Colômbia e China. Isto devido à baixa qualidade de nosso carvão, que contém altos teores de enxofre. 

O Brasil mantém uma posição oficial contrária à expansão da indústria do carvão em nosso território, reforçada por seu compromisso de reduzir as emissões de CO2 em pelo menos 36% até 2020. 

Mas empresários e trabalhadores do setor contestam esta posição, alegando que as novas tecnologias permitem o uso do carvão de forma cada vez mais eficiente e com menos impacto ambiental. 

Entre as inovações – desenvolvidas pelo centro de pesquisa das empresas mineradoras da região de Criciúma – estão o backfilling (reintrodução de dejetos nas próprias galerias de escavação), a gaseificação in situ (obtenção de combustível em forma de gás, extraído de depósitos profundos de carvão) e técnicas de captura e estocagem de CO2 em galerias subterrâneas (tecnologia que poderia ser implantada em termelétricas). 

A maior vantagem do carvão fóssil frente a outras fontes de energia, como a hídrica e a eólica, é o grande estoque disponível deste combustível, destaca o professor da COPPE/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa. Ele defende a geração elétrica a partir da queima de carvão, como forma de atender ao aumento da demanda não suprida pelas hidrelétricas. 

Os argumentos contrários à ampliação do uso de carvão mineral para produção de eletricidade parecem mais consistentes. Vão dos riscos à saúde dos mineiros aos prejuízos ambientais. 

Pesquisa da UFSC revelou que não só trabalhadores das minas de carvão, mas também habitantes das regiões produtoras têm taxas de metais (Pb, Cu, Zn, Fe) no sangue maiores do que doadores de um grupo-controle de Florianópolis. 

A quantidade de material bruto extraído do solo e descartado na superfície chega a 75% em algumas áreas, o que é enorme comparada à de outros países produtores de carvão, como a Polônia (5%), Austrália (10%) e Índia (30%). 

Na geração elétrica, a emissão de poluentes decorrentes da queima do carvão nacional é alta, sem falar no gás carbônico despejado na atmosfera: para cada tonelada de carvão consumida 4,5 toneladas de CO2 são liberadas. 

Decisões judiciais determinaram a recuperação de áreas carboníferas em Santa Catarina até o final da década. A recomposição do solo degradado consiste em isolar os dejetos, cobrindo-os como uma camada de argila impermeabilizante sobreposta por uma camada de terra e outra de vegetação rasteira. 

O economista e pesquisador da Unesc Alcides Goularti Filho diz que a medida é paliativa. Ele alega que nenhuma árvore vai crescer nas áreas supostamente recuperadas, porque suas raízes podem furar a camada de argila, fazendo com que o material tóxico volte a contaminar o solo. 

Para os empresários do setor carbonífero, o Brasil estaria na contramão da tendência mundial, ao ignorar o carvão mineral como alternativa energética para atender ao aumento da demanda elétrica. 

Mas será que dá para jogar nas costas de futuras gerações o inevitável custo ambiental dessa fonte de energia? Como se o país não tivesse opções. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário