sábado, 18 de maio de 2013

Ano da Alemanha no Brasil: cultura, economia, futebol e... energia renovável!

Evento é também ocasião para o país da tecnologia solar emplacar projetos de energia limpa no ‘país do sol’

Geração de potência e ar condicionado com tecnologia Fresnel (1.400 m2 de área de captação e 700 kW térmicos), para ginásio esportivo em Doha, Qatar (http://www.industrial-solar.de)

Inaugurado no último dia 13, Alemanha + Brasil 2013-2014 é uma iniciativa governamental para estreitar os laços culturais entre os dois países. Mas também um espaço para novos empreendimentos em várias áreas, entre elas, a de energia renovável. 

Uma missão alemã iniciou esta semana um giro pelo Nordeste, divulgando as possibilidades de uso da energia solar na indústria brasileira, com tecnologia Fresnel. Ontem, a missão esteve em João Pessoa.

A apresentação, feita pelo representante da Industrial Solar - thermal solutions Christian Zahler, foi no Centro das Indústrias do Estado da Paraíba (CIEP) e contou com a presença de pesquisadores do Centro de Energias Alternativas e Renováveis da UFPB, engenheiros e representantes do Governo estadual, da Federação das Indústrias (FIEP) e Sindicato da Indústria Sucroalcooleira da Paraíba. 

A energia solar é abundante em território brasileiro, especialmente no Nordeste – onde se dispõe de uma média anual superior a 6 kWh/m2dia. É, portanto, indiscutível que este recurso renovável tenha um enorme potencial de uso no Brasil, não só para aquecimento doméstico (substituição de chuveiro elétrico, principalmente), mas industrial e nos setores de comércio e serviços. 

A indústria responde por cerca de 1/3 do consumo mundial de energia, dos quais 70% só em processos de aquecimento. Desse total, 57% do consumo energético são voltados à produção de calor a temperaturas abaixo de 400ºC, que poderia ser atendida pela tecnologia solar de Fresnel, em países ensolarados como o Brasil. 

A Industrial Solar simulou para 5 capitais brasileiras a potência térmica anual por metro quadrado que pode ser obtida com seus coletores solares de Frenel (gráfico). Enquanto em São Paulo (menor radiação solar) a energia gerada em um ano foi de 414 kWh/m2, em Recife (maior radiação solar) foi 85% maior. 

Radiação solar incidente anual, energia térmica produzida em um ano e rendimento anual médio do sistema

A tecnologia alemã permite gerar água pressurizada, vapor ou óleo térmico, que podem ser aproveitados de distintas formas, seja para geração elétrica, calor de processo ou para produzir frio, a chamada “trigeração” ou “poligeração”, como dizem os alemães, para designar os múltiplos usos da energia solar térmica na indústria. 

Por exemplo, na indústria têxtil o processo de tingimento dos fios requer calor, normalmente suprido pela queima de gás natural. Já o maquinário utilizado na confecção dos tecidos precisa de um ambiente climatizado. Ambas as aplicações poderiam, em princípio, ser atendidas com tecnologia solar de Fresnel, reduzindo os custos energéticos da fabricação. 

No entanto, é preciso avaliar criteriosamente o potencial de radiação direta existente no local de aplicação. Radiação direta é a parcela da energia solar proveniente diretamente do disco solar; é a radiação que chega até os espelhos em forma de “raios de luz”. Apenas esta parcela de radiação é utilizada nos coletores Fresnel. Ou seja, em locais com alta incidência de nuvens, não funciona. 

O setor sucroalcooleiro do Nordeste, um dos que poderia se beneficiar da tecnologia solar de Fresnel – inclusive aproveitando a infraestrutura de cogeração existente nas usinas (caldeiras, turbinas) – está majoritariamente localizado na zona da mata e no agreste, regiões com muitas nuvens. 

Uma análise econômica também é necessária, para se avaliar o tempo de retorno do investimento em sistemas de energia solar e a melhor opção tecnológica, em função do tipo de energia e/ou do nível de temperatura requerido no processo industrial. 

Por exemplo, se determinada indústria tem um alto consumo elétrico e pretende investir na geração solar, certamente a melhor alternativa em termos de custo de instalação seria um sistema fotovoltaico, cujos painéis – especialmente os de fabricação chinesa – são bem mais baratos que a tecnologia de Fresnel. Sem falar no custo da turbina de vapor que aumenta de forma considerável e inversamente proporcional ao tamanho da usina geradora. 

O grupo alemão pretende, com apoio de instituições governamentais e bancos estatais brasileiros, criar no Brasil uma subsidiária da Industrial Solar, onde seriam fabricados 80% dos componentes da instalação Fresnel. A Alemanha produziria os espelhos primários, o tubo absorvedor de radiação e alguns sensores. 

Sem os estudos mencionados acima, é impossível embarcar na proposta dos alemães.

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