quinta-feira, 22 de maio de 2014

França: autoconsumo de energia solar fotovoltaica em debate

Setores empresariais e associações declaram-se a favor e contra a autoprodução individual

http://www.avenirenergies.fr/lenergie-solaire/panneaux-solaires/

A autoprodução de eletricidade solar, especialmente em habitações individuais, gera polêmica entre agentes do setor fotovoltaico francês. 

Sem dispositivo de estocagem, a parte da energia solar consumida localmente não passaria de 40%, o que torna difícil obter a “paridade rede” (kWh fotovoltaico ao mesmo custo do kWh da rede).

No final de 2013, a Associação Hespul (www.hespul.org) publicou uma nota, destacando a “armadilha” que o autoconsumo de eletricidade solar residencial representa. 

Em reação ao comunicado da Hespul, mais de 400 atores do setor fotovoltaico francês endossaram o “Manifesto pela autoprodução local de energia renovável”, de autoria de Grégory Lamotte, diretor da consultoria em gestão de energia elétrica Comwatt. 

Para a Hespul, é cedo ainda para se pensar em autoconsumo, uma vez que a penetração do fotovoltaico na França é muito fraca e a paridade rede para o cliente final está longe de ser alcançada. 

“É verdade que a eletricidade no país é barata, mas o seu preço deve aumentar 10% este ano e 5% ao ano, a partir de 2015, o que tornaria o autoconsumo rentável num horizonte de 20 anos”, rebate Grégory Lamotte. 

Marc Jedliczka, diretor da Hespul, retruca, afirmando que nada impede aos que desejam consumir localmente a eletricidade solar; sua preocupação é que o autoconsumo possa ser visto como a única via do fotovoltaico. 

“A tarifa de compra [de energia solar fotovoltaica] foi concebida para dar visibilidade aos investidores, sejam eles grandes ou pequenos. Nossa visão da transição energética implica em 90 GWp instalados até 2050 e não será o autoconsumo que permitirá atingir esta meta”, declara Jedliczka. 

Autoconsumo ou autoprodução? Os dois termos descrevem situações bem diferentes. “Autoconsumo” significa consumir o máximo de eletricidade produzida por uma instalação, seja pela redução do tamanho do sistema (adaptando-o à demanda), deslocando horários de consumo ao longo do dia, estocando energia ou criando novos usos, de modo a injetar o mínimo possível na rede. Neste caso, há o risco de se gerar um superconsumo. 

Já a “autoprodução” representa simplesmente a taxa de consumo elétrico da edificação coberta pela instalação fotovoltaica. Maximizar a autoprodução não implica em redução do tamanho do sistema, como no caso de autoconsumo. A energia excedente é injetada na rede. 

Exemplo de autoconsumo de eletricidade fotovoltaica na indústria. A curva grená incluída no gráfico mostra (qualitativamente) que um sistema FV residencial pode gerar energia muito além das necessidades da casa. Ao contrário do que ocorre na indústria. Adaptado de
http://www.osprelafrica.com/fr/index.php/productos-y-servicios/autoconsumo-fotovoltaico

Grégory Lamotte destaca o aspecto “independência” do autoconsumo fotovoltaico, como elemento de proteção do cidadão contra futuros aumentos no preço da energia elétrica oriunda da rede. 

“Se os painéis fotovoltaicos instalados no telhado da minha casa suprem 50% do meu consumo, fico menos vulnerável a eventuais aumentos das tarifas de eletricidade”, exemplifica Lamotte. 

Nesta ótica, pequenas instalações (de 1,5 a 2 kWp) poderiam atender parcialmente o consumo elétrico de uma residência, criando um novo mercado de sistemas fotovoltaicos de pequeno porte, com unidades de até 250 Wp de potência. 

Para André Joffre, diretor do bureau de estudos em energia solar Tecsol (com sede em Perpignan), a visão da Hespul – de que telhados devam suprir mais energia do que necessitam os moradores da casa – é equivocada. 

“Quanto mais cidadãos se implicarem neste tipo de tecnologia, mais eles vão apreciar o seu valor; seria um erro monumental deixar esses consumidores à margem”, defende Joffre. 

A esta visão, se opõe uma abordagem mais coletiva da energia. “Já que nem todas as casas podem ser equipadas com painéis fotovoltaicos, seria desejável que aquelas que podem, produzam mais energia do que consomem”, defende o diretor da Cler (Rede para a Transição Energética), Raphaël Claustre. 

Para o diretor da Hespul, “seria ridículo instalar 300 Wp para alimentar um tanque de água aquecido eletricamente, quando o telhado permite instalar 3 ou 10 kWp; é preciso um mecanismo que otimize a exploração dos telhados em áreas urbanas”. 

Já para o presidente da Comissão Solar Fotovoltaica (Soler) do Sindicato de Energias Renováveis (SER), Arnaud Mine, é possível instalar alguns GWp sob diferentes fórmulas, sem perturbar a rede elétrica francesa. 

“Isto facilita a sobrevivência de empresas, a realização de P&D, o acúmulo de know-how e experiências que poderão ser exportadas. É preciso instaurar um mecanismo para desenvolver o autoconsumo; seria imprudente mudar o sistema sem saber se o novo funcionará.”, declarou Mine. 

Esta deve ser a posição de consenso entre os participantes de um grupo de trabalho sobre autoprodução fotovoltaica, criado pelo Ministério da Ecologia francês. 

Fonte: Systèmes Solaires – Le journal du photovoltaïque, hors-série Nº 11, maio de 2014

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