quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

‘Agrivoltaico’: cultivo à sombra de painéis solares

Estudo revela que é possível produzir alimento e energia limpa no mesmo terreno

Painéis fotovoltaicos instalados em campo agrícola a uma altura que permite passagem de máquinas de arado e colheita (FOTO: Christian Dupraz/Inra). Le Journal du Photovoltaïque, hors-série Nº 12, Novembro de 2014

Experiências realizadas em terras próximas de Montpellier mostram que é possível a “simbiose” entre agricultura e geração fotovoltaica. 

A pesquisa focou o desenvolvimento comparativo de certos tipos de planta, cultivados sob diferentes graus de exposição ao sol.

Tanto a agricultura quanto a energia solar precisam de terras cada vez mais raras para se desenvolver mundo afora. Pressionadas pelo aumento demográfico global, as demandas por alimento e energia não param de crescer. 

Por outro lado, em muitas regiões do planeta, a intensidade de insolação impede que certas espécies vegetais possam ser cultivadas. 

Então, porque não associar agricultura e produção de eletricidade solar? Por que não conceber painéis fotovoltaicos gerando energia e ao mesmo tempo produzindo sombra para o cultivo de vegetais? 

Para responder a essas questões, um projeto piloto de “agrivoltaico” experimental, batizado de Sun’Agri, foi implementado pela consultoria Sun’R e o Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França (INRA, na sigla em francês). 

No cerne da pesquisa, a análise do desenvolvimento de um conjunto de legumes, hortigranjeiros e trigo, cultivados sob diferentes intensidades de radiação solar. As reações ecofísiológicas das plantas foram avaliadas e modelizadas. 

Inicialmente, as plantações foram cobertas por um campo de painéis fotovoltaicos – posicionados a uma altura que permitisse a passagem de máquinas agrícolas – bloqueando 2/3 do hemisfério sobre as culturas. 

O resultado foi negativo; observou-se uma redução média de 40% do rendimento agrícola. Já com a área sombreada limitada a 1/3 do hemisfério, os rendimentos das plantas mantiveram-se dentro de uma margem de 10% em torno do seu crescimento natural. 

“Sob tais condições, as plantas demonstraram capacidade de se adaptar para manter um desenvolvimento normal”, diz Antoine Nogier, diretor da Sun’R. Além deste feito, foi observada uma diminuição de até 30% do consumo de água. 

Os resultados animadores dessa experiência levaram a parceria Sun’R/INRA a lançar a segunda fase do projeto (o Sun’Agri II), centrada no uso de painéis solares móveis que permitam variar a exposição das plantas ao sol. 

“Em certos períodos, as plantas tem maior sensibilidade à sombra, o que as prejudicam, especialmente durante a floração. Com painéis móveis, será possível controlar a incidência de radiação solar, reduzir a transpiração e consequentemente o consumo de água das plantas”, explica Christian Dupraz, pesquisador do INRA. 

O objetivo da pesquisa é obter parâmetros de adaptação das plantações (sombreadas por instalações fotovoltaicas), em função de fatores como latitude e sazonalidade, para melhorar quantitativa e qualitativamente a produção agrícola em regiões mediterrâneas e, mais amplamente, em zonas ensolaradas do globo. 

Se a concepção da coabitação de agricultura e energia solar é simples, a implementação de sistemas agrovoltaicos dinâmicos requer a elaboração de algoritmos complexos, específicos para cada planta. Daí a importância do programa de pesquisa Sun’Agri. 

Uma primeira usina piloto conectada à rede, de 2 MWp (mega watt pico), ocupando 4 hectares e instalada sobre um vinhedo, está prevista para a região de Perpignan, no sudoeste da França. 

Fonte: Le Journal du Photovoltaïque, hors-série Nº 12, Novembro de 2014

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